Cuiabá virou piada nas redes sociais depois de o desfile da Estação
Primeira de Mangueira e as inúmeras brechas deixadas pela apresentação
da Escola de Samba. Elementos básicos que representam a cultura local
como a Viola de Cocho, o Siriri, o Cururu, o pequi, o calor escaldante
da terra, foram simplesmente ignorados no contexto para dar lugar a
gafes culturais como ‘noivas-cadáveres’, peixes amazônicos, Bumba Meu
Boi e até um Jequitibá mato-grossense.
O que para muitos foi motivo de indignação, é que a Mangueira ‘vendeu’
para o mundo uma Cuiabá que não existe e o que mais se via nas redes
sócias, é que povo Cuiabano não se reconheceu no desfile. O publicitário
e cineasta, Bruno Bini, foi um dos que de forma muito bem fundamentada
externou o que se via nos posts dos demais.
“No facebook, a timeline gritou a revolta cuiabana contra
noivas-cadáveres e outros equívocos. Até acharam um Jequitibá
mato-grossense, mas como filho de historiador, me recuso a aceitar que
isso seja representação da cuiabania. Realmente foi uma grande
oportunidade. Uma enorme vitrine. Estivemos anunciando Cuiabá, mas do
jeito errado. Aquele produto não existe. Faltou pequi, viola de cocho,
nosso calor e uma "ufa" de coisa.
No marketing existe um termo para isso: dissonância cognitiva. É quando o
consumidor percebe que o que desejou é diferente da realidade. É o que
estamos sentindo agora, pois não nos reconhecemos ali. E é o que
qualquer turista estimulado pelo desfile vai sentir ao chegar a Cuiabá,
pois o que ele viu não existe”, citou o publicitário em um artigo
publicado logo após o desfile.
O ‘investimento’ milionário encabeçado pelo ex-prefeito Francisco
Galindo (PTB) na Mangueira gerou polêmica. Apesar de a alegação de que
era uma vitrine para a cidade-sede da Copa 2014, boa parte da população
acredita que os R$ 3,6 milhões destinados à escola de samba, poderiam
ter sido revertidos para saúde, educação e outras áreas prioritárias.
Com todos os questionamentos sobre a história e o contexto vendido ao
público, ninguém questiona que a escola fez bonito na avenida com seus 4
mil componentes. Tanto foi que que a Estação Primeira de Mangueira
venceu o prêmio Estandarte de Ouro do Carnaval 2013, do jornal O Globo,
por seu desfile no Grupo Especial do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira
(11). A agremiação da Zona Norte do Rio, que falou sobre a capital
matogrossense Cuiabá, ficou, ainda, com o título de "Melhor
Porta-Bandeira para Mercella Alves e de "Melhor Ala das Baianas".
Confira alguns dos posts nas redes sociais:
- O Jequitibá....foi dureza!
- será que escutei direito? bumba meu boi?
- Não, jequitibá, boi bumbá e noiva cadáver NÃO são caraterísticas marcantes da capital mato-grossense. Emocionada. Só que não.
- Esse samba enredo e essa direção artística da Mangueira foram feitos
para gringos e para os que não cuibanos, pois os cuiabanos mesmo ficaram
de longe, muito de longe... Mangueira poderia ter feito uma pesquisa
melhor.
- Foi MUITO emocionante ver a Mangueira apresentar Cuiabá na avenida,
IMPAGÁVEL (desde que invista aqui também na mesma proporção), porem
faltou pesquisa!!!! Faltou a viola de cocho, o Siriri e Cururu e outros
detalhes, mas o trem surgiu nem que seja na imaginação, imagino a emoção
dos que lá estavam, pois aqui já me emocionei muito. Valeu !!!!!!
- Só falta a Mangueira pagar de Palmeiras e ser rebaixada pra segundona! #PODEARNALDO?
- Ei, você da Mangueira que fez a pesquisa sobre Cuiabá: You are fired!
- Agora quem vai pagar pelo lixo apresentado no valor de 3,6 milhões, ai depois quem chupa e campo grande.. Tá bom CUIABANOS..
Leia a íntegra do artigo de Bruni Bini:
“Sou cuiabano e amo minha cidade.
E apesar de não ser um folião, tenho simpatia pela Mangueira.
Me emocionei ao ver o desfile.
Foi bonito, curti a novidade das duas baterias e ver a arte de João Sebastião ali.
Mas… Houve muitos "mas".
Esqueçam a beleza, a magia e a embriaguez da festa.
Foi um negócio. Uma compra.
Nada contra o apoio a manifestações culturais, muito pelo
contrário. Sou defensor do patrocínio, do apoio a cultura - que
funcione. E aí é que está o problema.
O ex-prefeito queria uma vitrine. A Mangueira enfrentava
dificuldades financeiras, com salários atrasados e uma situação interna
conturbada, com um processo eleitoral anulado pela Justiça.
Foram 3,6 milhões investidos na compra de um espaço na mídia televisiva nacional.
Cada minuto custou R$ 40.900,00. Valeu a pena pra Cuiabá? É preciso fazer conta.
Uma inserção na Globo nacional pode custar bem mais do
que isso, dependendo do horário. Mas quanta gente está vendo? Salve
Jorge, a pior novela das oito que eu já vi teve pico de audiência de 37
pontos.
O carnaval da emissora, que vem perdendo audiência a cada
ano registrou 8,7 pontos, quatro vezes menos. É menos do que Malhação
ou Vale a Pena Ver de Novo. Ou seja, uma audiência que não é lá essas
coisas.
Se estamos falando da contratação de um serviço (no caso,
do talento e criatividade dos mangueirenses), seria preciso que os
contratados seguissem o briefing - ou pelo menos o lessem. Não foi o que
aconteceu, com um samba enredo coringa, que poderia servir para várias
outras cidades. Não vi o mínimo compromisso com a história e a cultura
da minha cidade.
No facebook, a timeline gritou a revolta cuiabana contra
noivas-cadáveres e outros equívocos. Até acharam um Jequitibá
mato-grossense, mas como filho de historiador, me recuso a aceitar que
isso seja representação da cuiabania.
Realmente foi uma grande oportunidade. Uma enorme
vitrine. Estivemos anunciando Cuiabá, mas do jeito errado. Aquele
produto não existe. Faltou pequi, viola de cocho, nosso calor e uma
"ufa" de coisa.
No marketing existe um termo para isso: dissonância
cognitiva. É quando o consumidor percebe que o que desejou é diferente
da realidade. É o que estamos sentindo agora, pois não nos reconhecemos
ali. E é o que qualquer turista estimulado pelo desfile vai sentir ao
chegar a Cuiabá, pois o que ele viu não existe.
Acho que foi um ótimo negócio para Ivo Meirelles e a sua
Mangueira - que pra completar, ainda conseguiu estourar o tempo,
comprometendo as chances de um título.
Para Cuiabá, um negócio duvidoso.
Para Cuiabá, um negócio duvidoso.
Uma boa ideia, com boa intenção, mas que se perdeu quando o cliente ficou menor do que o fornecedor”
http://www.cenariomt.com.br/noticia.asp?cod=269013&codDep=3
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